Reportagem – Primeira ponte em arco idealizada na América do Sul
Ponte do Rio Paranaíba: Uma composição no urbanismo de Patos de Minas
Elemento do contexto histórico da cidade de Patos de Minas-MG e um marco para a arquitetura nacional, a primeira ponte em arco da América do Sul, “Ponte sobre o Rio Paranaíba”, como é conhecida, faz parte da Avenida Joaquim Fubá, no Bairro Nossa Senhora da Aparecida, onde o Rio Paranaíba passa ao lado. Um dos primeiros símbolos de desenvolvimento da cidade, a ponte foi construída em 7 de fevereiro de 1926. Na época, o governador do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, do partido PRM disse que a passagem era a mais importante obra arquitetônica da década em toda a América do Sul.
O Rio Paranaíba com suas correntezas gigantes, compõe parte da bacia do Paranaíba, que tem como cenário uma área com cerca de 220 mil quilômetros quadrados em 196 municípios separados entre o Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. A bacia divide-se em três trechos distintos, entre eles, o Alto Paranaíba, responsável por cruzar o município de Patos de Minas numa altitude de 770 metros, recebendo pequenos afluentes que descem do espigão do Magalhães e da Serra do Barbaça, contrafortes da Serra da Mata da Corda.
“Desde a minha chegada, notei que o fluxo de veículos tem aumentado muito, pelo fato da Ponte do Rio Paranaíba, ser o ligamento entre esse bairro (se referindo ao Nossa Senhora Aparecida), a empresas de grande porte, como a Suinco, do outro lado do rio”, diz o aposentado e caminhoneiro, Varner Justino Batista, 70, que há 25 anos mora ao lado da ponte. “Desde criança eu já frequentava o Rio Paranaíba, que sempre foi uma fonte de pesca para os moradores da região, e com a ponte pude notar que ela por si só, já é um grande investimento, é parte do desenvolvimento da cidade”, completa.
Oliveira Mello conta em seu livro, que na segunda metade do século décimo nono, um dos fatores que conspiraram contra o comércio, foi à ponte do Paranaíba, projetada e sempre adiada a sua construção. “A travessia do rio em barcas desencorajava a lavoura e o comércio. Mais uma vez o zêlo da Câmara do Patrocínio pelos seus munícipes se manifestaram, no ofício que dirigiu ao governo, a 16 de janeiro de 1855, mostrando a urgência na construção de uma ponte sobre o rio”. (MELLO; Oliveira, 1971, Patos de Minas: Capital do Milho).
A construção de uma ponte sobre o Rio Paranaíba, na estrada que vai do Patrocínio à Freguezia de Santo Antônio dos Patos, e Freguezia dos Alegres, arraial da Catinga, Rio do Sono e Vila do Curvelo, resultou em uma grande conquista para os patenses e para os povos de Paracatu e Alegres, que ganharam um meio fácil para a sua travessia, na lei de 712 de 7 de maio de 1855. A ponte resistiu pouco, pois em 1870, começou a mostrar sinais de ruínas. Com isso em 1878 o governo solicitou um orçamento para a construção de uma nova ponte, no mesmo local da antiga, cuja administração dos trabalhos esteve a cargo de Antônio Dias Maciel, o Barão de Araguari.
Ainda no livro é possível notar que bem antes, em meados de fevereiro de 1868, o presidente Major Jerônimo Dias Maciel já chamava a atenção para a construção de uma ponte para que essa suprisse o problema das comunicações entre a Vila de Santo Antônio de Patos, antigo nome dado à Patos de Minas, que está situada até hoje à margem direita do Rio Paranaíba e suas províncias vizinhas, pois via o rio como um dos mais rápidos recursos de aproveitamento para tal.
“Preservar a ponte é preservar a memória e a história de formação do município”.
“A obra foi erguida pelo Governo do Estado, mas a demanda e a necessidade de sua construção partiram das lideranças políticas municipais, para ligar a estrada de Patos a Catiara”, diz o diretor de patrimônio da cidade, Geenes Alves. “Do ponto de vista econômico, ela liga uma região rural importante do município ao perímetro urbano, facilitando a escoação da produção agropecuária. Também liga o centro da cidade a rodovia de terra que aporta na rocinha”, complementa.
Ele ainda fala sobre o processo de tombamento, ocorrido em 2000: “deveu-se ao fato de sua importância no processo histórico formador de Patos de Minas e região, e foi baseado na sua longevidade histórica, no projeto arquitetônico/engenharia singular, e composição no urbanismo de Patos de Minas. Por outro lado, o tombado faz dela um ícone representativo da nossa história, portanto, um potencial ponto turístico para a cidade, ainda pouco explorado”.
Aos cuidados da Companhia Nacional de Cimento Armado S.A., a construção da nova e atual ponte do Paranaíba, ganhou destaque no “Jornal O Diário de Minas (1ª fase)”, na data de sua inauguração, que hoje faz parte do livro de Geraldo Fonseca, “Domínios de Pecuários de Enxadachins: História de Patos de Minas – 1974”, onde seus 7 metros de largura e seu arco único de 57 metros ganharam forma, é foram apontados na época, como um dos mais importantes trabalhos de engenharia do Brasil.
Até 2010 a antiga ponte sobre o Rio Paranaíba era simplesmente denominada de “ponte antiga do Rio Paranaíba”. Mas eis que em 21 de maio daquele ano, através da Lei n.º 6.242, ela ganhou um nome: “Antônio Gonçalves – Antônio Quiabo”, homenagem ao empresário da manipulação de ossos bovinos e afins que montou sua fábrica alguns quilômetros adiante. A rua que parte da Praça Sete de Setembro no Bairro Nossa Senhora Aparecida e vai dar na ponte era chamada de Rua Brasília, mas também teve o seu nome alterado, através da Lei n.º 2.231, ela passou a ser denominada de Rua Joaquim Fubá, no dia 14 de agosto de 1987.
Com largura para passagem de apenas um veículo, a pequena ponte foi construída toda em concreto armado, possuindo duas vigas curvas, que unicamente conformam as laterais, sendo engastadas através de vigas retas que criam a amarração e por esbeltos pilares vinculados na curvatura e no imenso pilar de sustentação. Por baixo desse, existem vigas que dão suporte a estrutura ao longo de seu perímetro. É a atual 3ª ponte.
Para a comerciante Vanussa Teixeira do Amaral Pereira, 48, a Ponte do Rio Paranaíba ainda pode ser melhorada, visto que a passagem de apenas um carro por vez, atrapalha no tráfego de veículos. “Moro no Nossa Senhora Aparecida desde quando nasci, e desde pequena ouço meus pais falarem sobre a ponte com bastante entusiasmo e admiração pelo projeto. Mas acredito que tudo tem o seu porque, se na época a ideia quanto a circulação de carros, era apenas um passar por vez, hoje o movimento como é grande, deveria ser levado em conta, e uma nova ponte ou uma ao lado poderia ser construída”.
“Essa construção têm o seu valor na história e merece destaque”.
A aposentada Maria Antônia Oliveira, de 65 anos, que mora perto da ponte há 34 anos, diz que muitas pessoas vão ao bairro, para tirar fotos da ponte e do rio, “eles falam que a ponte teve uma forma de construção que ainda não tinha sido realizada, por isso a ponte atrai as pessoas dos outros bairros e até o pessoal que vem de outras cidades; sempre têm gente sobre a ponte filmando ela”. “A Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, e da Diretoria de Memória e Patrimônio Cultura”, disse o jornalista e secretário da cultura patense, Fábio Amaro, sobre o órgão responsável pela preservação da ponte como patrimônio cultural do município.
Ele ainda completa que à população de um modo geral, talvez, naquele tempo, não tenha entendido muito bem o significado do tombamento. “Não acompanhamos o processo de tombamento da ponte do Rio Paranaíba na época, feito em 2000, mas acreditamos que houve certa publicização do ato/fato, que os atores ligados ao Patrimônio Cultural tomaram conhecimento, aprovaram e divulgaram a notícia, visto que os patenses não sabiam do porquê sua singularidade estava sendo considerado um patrimônio”.
Mesmo com buracos na pista, possibilidades de assaltos durante a noite, e com um tráfego intenso de veículos pesados (carretas e caminhões), a Ponte do Rio Paranaíba “balança mais não cai”, com sua estrutura imponente e seu arco gigante. Modelo de construção inédito para a época, o projeto chama a atenção até hoje e atrai pessoas de todos os lugares da região, como cartão postal da cidade de Patos de Minas-MG.
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